quarta-feira, 22 de julho de 2009

O balde



A minha revolta é muda. Não me mobilizo, não grito, não choro e nem bato. Calo-me. Jogo para algum lugar dentro de mim onde já estão raivas contidas, choros reprimidos, tristezas não demonstradas e gritos mudos. É como se fosse um balde com agua suja, mas aparentemente calma. Ao despejar mais agua no balde, o conteudo já existente remexe, as vezes respinga novamente em mim. Limpo e jogo aquelas gotas la dentro de novo.


A todo instante digo que o balde já está no limite, mas sempre tem espaço para algo mais. Quanto mais jogo, mais ele remexe e me incomoda, mas espaço ele ainda tem.
Já ouvi falar de stress, depressão, bipolaridade e enfarto cardiaco. É quando o balde vaza. Ele simplesmente é "protegido" pela minha máscara social: a de alguém feliz, "nem aí" e inatingível. Uma máscara para cada ocasião. A de homem simpático. A do príncipe encantado. A do Ogro machista. A do rapaz trabalhador. A do estudante aplicado; essa eu perdi. A do cantor de "clássicos" da música. A de bom filho. A de mal filho. A de irmão briguento. A de vizinho antipático.


Essas máscaras sociais disfarçam sempre o conteúdo do balde. Ninguém nem sabe que ele existe. Até um dia eu surtar e quando isso acontecer não há máscara que segure. Elas vão se rasgar e se despadaçar. E as máscaras sociais das pessoas ao meu redor, que ainda conseguem conter seus baldes, vão falar: "Louco". "Surtou". "Enfartou". "É Stress". "Ele não leva uma vida saudável". "Isso é de guardar coisas, por isso que não guardo". "Coitadinho".


Mas aqui quem vos fala é mais uma máscara: A de quem quer escrever algo legal.

E no fundo, eu não passo de um balde, que ainda não achou seu fundo.

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