sexta-feira, 27 de março de 2009

Infância perdida no coração da Metrópole

Um retrato de uma realidade que assombra a todos, e em plena Avenida Paulista: o trabalho infantil.

Por Leonardo Ferreira
Cerca de 250 milhões de crianças entre 5 e 14 anos trabalham no mundo, segundo a Organização Internacional do Trabalho. No Brasil, segundo pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) realizada em 2001, são cerca de 2,2 milhões de crianças em atividades profissionais que muitas vezes não têm nem as condições básicas de segurança. A maior parte dessas crianças são do sexo masculino, porém, meninas não são poupadas sendo utilizadas tanto em atividades domésticas com remuneração (algumas vezes abaixo do normal), como em atividades pesadas.
São Paulo, a maior cidade do país, é uma das que mais sofre com o problema. É crescente o número de crianças vendendo mercadorias ou simplesmente pedindo esmolas em faróis da cidade. Temos a chance de testemunhar na Avenida Paulista, que é palco de eventos grandiosos e manifestações, considerada coração de São Paulo, a triste vida dessas crianças.
É o caso dos irmãos Aliaqui e Adson, de 11 e 13 anos de idade, que trabalham fazendo malabarismo nos faróis das travessas na altura do MASP (Museu de Arte de São Paulo). “A gente estuda de manhã e vem pra cá mais ou menos ao meio dia, depois a gente fica até as onze da noite”, relata Adson. Os irmãos trabalham na região há quase seis anos. Eles vivem em um quartinho alugado próximo à Rua Frei Caneca, com a mãe, Ana, e mais quatro irmãos. Segundo Ana, as crianças trabalham pois ela tem de cuidar de uma criança de quatro meses, seu filho mais novo. Segundo ela, não conseguiu mais nenhum emprego desde que foi dispensada do Banco Central, onde trabalhava como faxineira.
“As pessoas, passam e perguntam: Por que sua mãe não trabalha? E aí eu respondo que ela não trabalha porque não tem emprego, se ela tivesse eu não estaria aqui”, diz Aliaqui.
Os irmãos faturam entre dez a trinta reais ao dia, o que gera o sustento de toda a família.Os dois são os irmãos mais velhos.

Os consumidores

Os freqüentadores de bares da região, ou mesmo passantes, estão acostumados a avistar a cena. “Já se tornou algo tão comum em São Paulo, que nem surpreende mais, algumas vezes ajudo com alguma quantia, mais por pena mesmo”, diz Jefferson Araújo, técnico de seguros, que costuma andar pela região.
Alguns ajudam por pena, outros simplesmente como consumidores comuns de vendedores em condições normais, como é o caso do jornalista Carlos Henrique Santos: “Às vezes ajudo sim, por que não? Não ajudo por dó. Geralmente compro porque quero o que o moleque vende ou porque a abordagem dele foi legal.”
Alguns freqüentadores da região, consomem os produtos porém, acham errado as crianças estarem sendo usadas para pedir dinheiro ou para vender algo. Apesar disso, a ajuda vem de alguma forma. Para Carlos, o que falta é uma grande atitude do governo para acabar com o problema: “É muito fácil colocar um filho no mundo e mandar ele trabalhar porque o governo não te sustenta. O governo não tem obrigação de te sustentar, mas de dar condições dignas para que a criança tenha qualidade de vida e um ensino legal.”




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